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Monografia | Biblioteca Municipal Ferreira de Castro | FG 613 FERR-M. soc | Available | 034941 |
Os homens de 1900 acreditavam no progresso. Os seus filhos, em 1910, anunciavam o fim próximo das epidemias, a saúde para todos e reformas garantidas. No fim deste século, estas certezas desapareceram: o preço da saúde não pára de aumentar, não há ano em que não surja qualquer drama – Chernobil, a sida, as vacas loucas – assistimos, inclusive ao ressurgimento de doenças que imaginávamos erradicadas. Este livro mostra que existe uma relação entre estes fenómenos e o estado de crise generalizada que caracteriza o nosso tempo. Nos países desenvolvidos tudo se passa como se o lugar e o objecto dos grandes conflitos sociais tradicionais tivessem sido deslocados. Ontem, ligados à exploração do homem pelo homem, exprimiam-se pelas greves ou pela revolução. Hoje, a doença substitui a greve, ou acompanha--a, numa reacção de recusa social, tanto se manifestando sob a forma de resistência passiva, como testemunhando a sua desorganização. Contudo, a obsessão da saúde perfeita não desapareceu. A doença é então um desafio disputado pela ordem médica, as empresas, o Estado e a ordem jurídica. Fonte de proveito e de poder, a doença torna-se um personagem social que alarga o seu campo. Explicar os efeitos perversos do progresso, não é abandonar a ideia, mas dar luz a forças novas que as nossas democracias teimam em ignorar.
Esta é uma obra rara; quantas emoções e riquezas ela abre a quem aceitar o desafio de um cientista do nosso tempo que levanta o véu mal tecido, mas aliciante e fácil, do pensamento dominante e procura razões mais abrangentes, embora difíceis e complexas, para explorar e perceber as razões da saúde e da doença. As doenças são as avarias possíveis da máquina humana? Assim se diz, e o pensamento médico dominante leva a agir e intervir em conformidade. Mas se pensarmos o Homem não como uma máquina mas como uma peça que juntamente
com outras peças suas iguais se integra e modifica (e instabiliza) a máquina (o ambiente) de que faz parte? Então a saúde humana depende muito do ambiente; e a própria evolução, modificação e variável prevalência das doenças terá a ver com as profundas alterações das condições de vida que o próprio Homem induz no ambiente físico e social. Eis uma visão nova, talvez não madura, mas enriquecedora e moderna, que nos obriga a respeitar e rever as origens, ao mesmo tempo que nos empenha a termos na mão o nosso futuro e o das outras peças que constituem o Universo.
Esta obra de pensamento é ilustrada com interessantes explicações para factos comuns, o que faz dela um repositório de informações em simultâneo com um desafio intelectual. Ligeira e pesada, segurança e questionável, respeitadora e demolidora, ficará como referência da viragem iminente da interpretação da saúde e da doença neste arranque para o próximo século.
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